sexta-feira, setembro 26, 2008

“Da Morte Voluntária”, Assim Falava Zaratustra (1885)

Muitos morrem demasiado tarde e alguns morrem demasiado
cedo. Ainda parece estranha a doutrina que diz: ‘Morre a
tempo!’
Morre a tempo: é o que ensina Zaratustra.
Mas como poderá morrer a tempo aquele que nunca viveu a
tempo? Mais valera que nunca tivesse nascido! É o conselho
que dou aos que estão a mais.
Mas até os que estão a mais se fazem importantes com a sua
morte, até a mais oca das nozes quer ser partida.
Toda a gente toma a morte a sério: mas a morte ainda não é
uma festa. Os homens ainda não aprenderam a consagrar as
mais belas festividades. (...)
Há os que falham a sua vida: um verme venenoso lhes rói o
coração. Que, pelo menos, procurem ter êxito na sua morte!
Há-os que nunca se tornam doces, apodrecem desde o Verão.
É a cobardia que os mantém presos ao seu ramo.
Há-os que vivem demasiado tempo e que longamente ficam
suspensos dos seus ramos. Que venha uma tempestade para
fazer cair da árvore todos esses frutos bichosos e apodrecidos!
Venham os pregadores da morte rápida! Seriam eles as
verdadeiras tempestades, os que abanam a árvore da vida! Mas
só ouço pregar a morte lenta e a paciência para as coisas
‘terrestres’.
- Friedrich Nietzsche

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