sexta-feira, janeiro 23, 2009

...
pelas margens deste cheiro de animais
mostrei-te a luz do feno. falei
do teu cabelo. doces promessas
me pedias
as mãos esmagando madressilvas.

a tarde tropeça ao meu encontro. devagar
o vento cava esta ternura. o tempo
entorna agora quanta égua tem.

pudesse arder
como as árvores: o coração
massacrado pelos pássaros.

...

à vista das aves
as árvores caídas. as couves
cobrem os canteiros. camélias
e magnólias
confundem-se na queda
e as alfaces
falam do futuro.

agora, não há outono
que transtorne
a horta. e os galdíolos
já não sabem mais
o que dizer.

as dálias olham deus
de lado. e eu, deitado
entre as ervas,
ardo devagar.

...

lenta a tarde entorna
sobre o prado
a luz desses cavalos. levam à boca
assustados
o brilho limpo dos campos.

galopam ao mesmo tempo
nas encostas
e no vento. esmagam ervas,
estrelas, mas são apenas palavras
acelerando o silêncio.

- Luís Miguel Queirós

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