O quarto é uma placa branca
ouve a explosão destas palavras
que dizem elas? Nada, são a voz do ar.
Entra-se na praça por escadas de cimento
e lixo entornado pelos cães.
Um riso triste pega no isqueiro.
Acende-o. Queima
o corpo na boca doutro corpo
Por pequenas horas, por alguns escudos.
Vou-me embora. Vou sem ti. Este recanto
foi o último, parece uma ruína, os néons
combatem ao vento contra o céu de fogo
aterradas perguntas, quem te trouxe?
O animal morto és tu?
Posso escapar-te.
No bolso furado os dedos masturbam-me.
E que me queres? Que te foda de pé? Que me vá embora?
Que saiba que já todos escreveram isto?
Quero lá saber. Que se lixe a escrita.
Que te lixes tu. Vou apanhar o metro. Vou
para outra praça pelo interior da terra, não é
uma metáfora, é um meio de transporte, sua merda.
E eu que só queria tocar-te os olhos,
os ombros tapados pela camisola,
junto do rio cobrir-me de chuva
longe das ruas do meu bairro
no prazer perdido, na memória finda.
- Joaquim Manuel Magalhães
1 comentário:
um frasquinho de veneno perfeito, perfeito.
:)*
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