A chuva não nos deixa ficar sós,
trazida pelo vento a tiracolo.
Do céu ainda se espera algum azul. Só isso
nos mantém fiéis à esplanada. Aqui ao lado,
no quarteirão dos pescadores a vida corre
à medida das marés, com as gaivotas
recortando o horizonte das viúvas
e as traineiras indo e vindo em formação.
E se aqui continuamos, presos pela chuva,
é para que a vida não nos entre tão depressa
pela porta. Ou não fosse a alegria
um bálsamo que raramente se entranha
até aos ossos. Vale a pena congelarmos
o silêncio, o espaço afectuoso entre as palavras.
- Vítor Nogueira
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