domingo, março 30, 2008

O REM

Subíamos à altura do grito
e atirávamo-nos de mãos dadas para dentro de um sonho.
Queriam então analisar os símbolos da nossa viagem onírica
e invadiam-nos o consciente com o inconsciente colectivo deles.
Fazíamos uso das palavras sem abrir a boca,
encontrávamo-nos sem nos encontrar,
tocávamo-nos sem nos tocar,
intentávamos possuir corpos fáceis e calados:
eu – o brasileiro da caixa do Lidl,
tu – a mulher do professor de direito civil.
Às vezes ias embora da minha imaginação REM,
por coisas pendentes
e para cada fim destes eu tinha uma continuação à medida.
Uma vez saltaste em cima do camelo
que acabava de nascer nas minhas costas;
e passaste então a fronteira sem olhar para trás.
Fiz desse sonho o Lisboa-Dakar das nossas noites
e andei a perseguir-te como um coiote esfomeado
nas areias que me arranhavam a vista.
Tínhamos a idade dos nossos filhos
e estávamos contentes com aparecer nos extras das vidas dos outros
e esse era o nosso campo de concentração da felicidade.

inédito de Golgona Anghel

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