quarta-feira, março 19, 2008

The americans took my girl

Na Calçada do Combro, esta tarde, um pombo engolia
um eléctrico cheio de pessoas, idosos, turistas e outros
desses vultos corriqueiros que preenchem espaços vazios
no arrepio da cidade que por dentro também nos assimila.
O pombo foi depois espantado por uma criança que corria
aos gritinhos, oferecendo chutos e promessas de morte.
Levantou voo com dificuldade, o pombo, mas não foi longe,
ao ganhar altura espetou-se contra a janela
de um terceiro andar que eu quis imaginar que fosse
a de um poeta à espera de um sinal. Mas enfim,
isto foi só para não ir directo ao assunto. Como se vê
esse título aí em cima já dava outro refrão para o disco
riscado que desmancha estes intratáveis corações que se pro-
meteram vingar. Sim, o desamor, como uma constipação, apresenta
sintomas muito vulgares e também se cura rapidamente
se deixarmos de andar ao frio. Ainda assim nesta vida
há coisas que não temos vontade de deixar para trás,
chamem-lhe mau perder, mas enquanto estamos mais
ou menos vivos às vezes sabe bem insuflar balões às cores
e acreditar que um vento especial lhes reserva um destino feliz.
O que é fodido é que seja uma máquina de propaganda estrangeira
aquilo que nos vem dilacerar as esperanças, levando-nos
as miúdas por fulgurâncias que não abrem mais os sorrisos
mas apenas os maquilham melhor. E não há loucura
que entretenha uma miúda como a sua vaidade, nisso
os americanos estudaram bem as tácticas do diabo...
Ah mas nós, os pobres, havemos de lhes levar a guerra!
Nos nossos laboratórios químicos juntamos as palavras,
estudamos as fórmulas e chegaremos à arma poética
de destruição maciça. É uma promessa:
esse império cor-de-rosa será um dia reduzido a cinzas.

1 comentário:

Ana disse...

Gostei deste :)