quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Esta noite chorei um pouco,
já não chorava há muito tempo, não sei dizer porque foi
não foi de tristeza ou saudade, nem por isso
não foi por alguma coisa que saibas ou pudesses saber
estou mais perto de me esquecer de tudo
do que de me tentar agarrar às coisas que perdi
não tenho nada dos corpos por onde passei
não guardei nada, nem cartas, nem silêncios
fotografados para a reabilitação dos dias

parece-me que
já fomos mais do que somos agora
eu e tu, já tivemos melhores razões
para marcar encontros ou fugir,
agora estamos onde estamos
sem dever explicações a ninguém,
cumprimentamos quem nos cumprimenta
sorrimos como quem morre, mas chorar
é uma coisa cada vez mais rara em nós

só agora percebo como foi bom
chorar contigo, quando ainda nos despedíamos
e era como se o tempo fosse uma coisa que se esgotava...
E talvez o tenhamos esgotado, o que me resta
são páginas autografadas, descrições desapaixonadas
que se concentram nos mais ínfimos detalhes,
cada vez menos o teu rosto ou uma expressão,
já não os teus cabelos ou a tua pele, nem sequer o cheiro,
é isso, perdemos a sensibilidade para as invisibilidades.
Estes dias que nos sobram já não nos sabem a nada.

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