sexta-feira, janeiro 04, 2008



Uma vita nuova exige novíssimos tormentos.
E esta é apenas vida velha em divisões mais amplas.

Pedro Mexia


Mudo de casa, para uma morada antiga: vou morar para o passado. Trago as coisas necessárias do presente. É provável que aqui percam a sua utilidade mas já não me lembro quais eram as coisas necessárias antigamente. Com sorte ou azar são as mesmas. Vendo bem, não mudou muita coisa: talvez apenas eu tenha mudado ou talvez tenha mudado apenas o mundo.
Quando chegar, vou abrir as janelas e tirar os panos brancos que protegem o pó de baixo do pó de cima. Vou abrir os caixotes que deixei ficar da última vez, corrigir a minha memória e voltar a arrumar tudo num canto.
O que é engraçado nesta casa antiga (ou um pouco assustador), é que nada se mexe, o tempo aqui não passa. Sou eu que ponho o sol no céu de manhã e que colo lá em cima as outras estrelas à noite. Mas só eu vejo os astros, moro na solidão. E sei que não chegará mais ninguém porque não posso dar corda ao tempo. Pensava que tinha ficado muita gente nesta casa. Sei agora, tarde, que sairam depois de mim. Era eu a anfitriã.
O pó que entrou pela janela não chegou a cair no chão.
E o raio de sol que entrou pela janela nunca chegou a aquecer a sala.

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