que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
Al Berto
Mantenho os braços caídos, inúteis as minhas mãos. Seja o que for, não interessa. Não há esperança, nada mais a fazer. O que me resta são estas quatro paredes que me cercam e que se aproximam lenta e gradualmente, tentando sufocar-me. Que venham, não quero saber. Este é o único acontecimento e mal reparo que acontece. Mantenho os braços caídos. O que há lá fora, o que não há lá fora, tanto faz. Continuam inúteis as minhas mãos. Alguém me falou em felicidade. É uma palavra, deve estar no dicionário e é só. Quatro paredes, nem uma fissura, um espaço para mim entre elas, cada vez mais pequeno e os meus braços caídos. Sei que o espaço diminui porque alguém me disse: de fora nota-se sempre se só se espreitar de vez em quando, como a avó que diz ao neto "estás tão crescido." O neto não repara. Nem ele, nem eu. A verdade é que estas paredes sempre estiveram aqui, a única coisa que mudou é que já não há espaço para montar um teatro e encenar grandes e simples peripécias. Isso mudou hoje. E por isso deixei cair os braços e assim os mantenho esperando. Tornaram-se inúteis as minhas mãos.

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