rompem-se as costuras ao silêncio
o espírito que se torce entre as mãos nervosas
há qualquer coisa na incompletude do olhar
que desafia as divisões escondidas no pensamento
o eco sabe mais que a própria pronúncia do som
desperta as cordas de uma vocação
fazendo a narração completa dos objectos impossíveis
a contagem que a memória não perdoa, as ausências
a bolorenta praga que com a boca do medo
engole cada uma das conveniências
da casa, pousando sobre a inclinação do murmúrio
por dentro o recheio de notas marginais
cobrindo as paredes, longos comentários à obra
ao conto desencantado que corrige este corpo
debruado sobre jardins que defloram
sem a participação do calor, da celeste luminosidade
pacientes cartas desarrumadas sobre uma mesa
explosões de azul infectando as sombras,
a agitada insónia desconfiando do lugar onde se enreda o sono
desconfiando que possa ainda alguém surgir sem convite
mais alguém e nada depois disso, ninguém sabe dizer que dia é
não há alguém que entenda a diferença que faz ao mundo
o dia de hoje, e talvez não faça nenhuma
resta apenas quem conheça palavras suficientes
e se atreva a reflexões delineadas sobre uma intimidade
viciada, fechando os olhos sob o peso de uma falsa emoção
sem nem poder ouvir a melodia das sílabas,
resta demasiado tempo para encontrar o verso perfeito
e mais nada, atrás de um verso só o seu eco, e mais ninguém, nada
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