segunda-feira, janeiro 14, 2008

Referência

Há períodos em que descanso do constante sinal de alerta que me dá o excelentíssimo Dragão através do seu poderoso Dragoscópio (agora também Lança-Chamas), mas são momentos dos quais recupero logo que posso para bem de mim. A questão é que desde que me tornei adepto do esquema informativo da blogoesfera que faço muito gosto em manter uma ligação a este que é para mim o lugar onde se produzem os textos que mais me impressionam, não só pelo jargão delicioso mas sobretudo pela assiduidade do serviço. É realmente um projecto notável e que quanto a mim merece todo o apoio. De todos os blogues que leio só este e o Da Literatura me fariam imensa falta caso terminassem a sua actividade. São dois sítios muito distantes e os dois maravilhosamente úteis. E relembro que não me parece que um bom blogue se faça da coscuvilhice e das confissões ordinárias remetidas para um duvidoso regime cultural que se alicerça em referências pretensiosas. Um blogue excelente é aquele que nos presta um serviço de informação útil ou de positiva diversão. O Dragoscópio é excelente.
Aqui vos deixo um dos últimos posts deste nosso grande amigo.

A Hominicultura de Aviário

Porque é que as chamadas doenças do sistema imunitário - patologias como a febre do feno, asma, diabetes e esclerose múltipla, entre várias outras menos vulgares e mais sinistras -, têm vindo a proliferar nos países desenvolvidos, ao contrário dos países por desenvolver?...
Desde há dez anos que os cientistas que estudam o assunto chegaram a uma conclusão: excesso de higiene. O que até para o leigo é quase intuitivo: se a função faz órgão, e faz, então o sistema imunitário, em deixando de ter intrusos com quem se ginasticar, atrofia-se, destrambelha-se e, ao estímulozinho mais extravagante, desata a atacar o organismo que é suposto defender. Por outras palavras, sem funções, torna-se disfuncional. Disfunciona.
Experimentem criar uma planta na natureza, ao ar livre e outra da mesma espécie numa estufa. Qual das duas, uma vez adulta e exposta à intempérie, é mais resistente e adaptada? É a de melhor raça? A de genes campeões? Raça o olho do cu! Genes o centro da peida! É a que se treinou e fortaleceu ao longo da vida (neste caso, da infância e da juventude). É a que se habituou ao combate contra as dificuldades. É a que desenvolveu resistências às adversidades. Resumindo: é a que viveu! Nas plantas, como nos homens, o mimo, o apaparicamente, a superproteção do parque artificial são bons para criar enfos, repolhos artificialmente insuflados que, à primeira ventania, choram pela mãezinha, pela estufa, em suma, pelo paraíso perdido. Quer física, quer mentalmente. Em perdendo a redoma, perdem a vontade e o viço.
"O que não me mata, fortalece-me", dizia Nietzsche. E eu, activamente, subscrevo. Nos antípodas dos higienistas de todas as brigadas. Mas sobretudo destes frenéticos do euroclismo burrocrático. Em nome da fobia à morte, andam a incutir-nos o medo à vida.
E no fundo, não pretendem criar gente mais saudável: querem apenas gente mais dependente. Mais viciada em higienismos, drogarias e sulfatações. Encurralada em cidades, as grandes estufas. Os Grandes Aviários.


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