domingo, janeiro 13, 2008

dores de nada

na pele morrem-te os pássaros que vogaram longe
dos exercícios de intemperadas memórias, áridos desertos
e breves iluminações recolhidas na boca da infância
longínquas noções instaladas nos declives e acentuações
de um murmúrio que te morde os nervos
acompanhando o sinal cardíaco do tempo
através de esquissos apostos no embaciar
das manhãs vítreas, deixaste as marcas expressivas
de um interior minguante, gemendo nas infrutuosas regiões do inverno

reclusão, foi uma das palavras que forçaste
numa conversa com um passageiro tardio, a noite
viria a invocar-te numa solidão mecânica, abrindo o calabouço
de desarrumações mentais, a ciência das insuficiências
lugar dos sonhos como brinquedos partidos, espectros tristes
de uma inutilidade quase injustificada, ____________________quase quase quase
a expiação súbita de todas as minhas injustificações
escreveremos todos, finalmente, numa letra tremida
palavras como frustração e aceitaremos os epítetos
daqueles que fizeram tudo para nos desqualificar
pacificamente ofendidos, passivamente derrotados, abraçando
copos e garrafas, o reflexo baço, os lugares comuns
onde se refundem os corpos mais pesados e deprimidos

sem querer oferecer ao mundo uma grande razão
devolvem-se todas as graças e é um olhar de compunção
que se amarra aos padrões de uma lânguida estética
desinteressada nas inquietas impressões da arte apaixonada
e compulsiva, a simples figura desenhada de um pássaro quieto_______um pássaro quieto
com um pequeno cordão nas patas presas aos pulsos de um moribundo
e no bico nada mais do que a última das suas penas
para fazer passar o tempo esquecendo o corpo
a marca pobre de uma presença infectada das dores de nada

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