quinta-feira, dezembro 27, 2007



Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente

e às escuras dançasse com a minha alma


Fernando Pinto do Amaral

Hoje deitei-me já de manhã, quando finalmente me senti um pouco cansada. Deitei-me sem desfazer a cama e deixei-me ficar inerte, com os olhos postos nas paredes brancas do meu quarto. O meu coração ainda poderia ter paredes assim. Mas como todas as chaminés, fica negro com o uso e com o tempo. Era assim que a minha alma se aquecia nos tempos frios: sentava-se em frente ao meu coração e estendia as suas mãos suaves para o fogo. Também estas mãos se tornaram enrugadas e ásperas com o tempo passado em frente à lareira.
E é por isso também que me deito apenas sobre os lençóis, não sei que esperar do calor da minha cama e dos seus efeitos no meu corpo. Tenho medo de fechar os olhos e voltar a ter o mesmo sonho, em que um fantasma de neve me engole pelos pés, depois mastiga o meu peito com devoção e por fim se delicia com os rebuçados negros que trago na cara.
Tento não adormecer esta manhã, tento limpar o meu coração e acariciar as mãos à minha alma, olhando apenas incessantemente para as paredes.
E este meu olhar não mente: o corpo é frágil mas resiste sempre mais.

22-12-2007

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