Escolhem os meses correctos e praticam
o acasalamento. Assim lhes ordena
a imperiosa vocação de parir - razões de Estado
a iluminarem os corpos. Não têm a culpa,
ou quase a não têm, mas o muito que fedem
- quando fodem e quando não fodem - torna o caso
irrelevante: your body belongs to the state.
São felizes. Ou julgam sê-lo, arrastados
pela funda e negra angústia de quem cumpre
o insucesso dos dias. Felizes,
quero dizer cegos. Quanto vale este feto senil,
a borrar-se agora e no declínio da idade? Dúvidas
que não encontramos em albúns para bebé
e noutras tristes muletas da memória familiar.
Fraldas contudo gentis deixam sequinho o monstruoso
rabinho tão belo. Fruto podre do amor, um animal
decrépito em breve, a desbaratar os anos
em revistas pornográficas que no quiosque da esquina
lhe devolvem o flagelo banal da juventude
- e o rabo cada vez menos seco, a ardento frescura da bosta.
(Era uma canção de amor, lenta e dolorida
como todas, era o mês economicamente ideal
para acasalar - havia, há sempre, o cio bastante.)
E nisto, serenamente, tem a morte o seu lucro,
enriquecida colheita para a sua gadanha discreta.
- Manuel de Freitas
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