terça-feira, agosto 28, 2007

Pensem muito bem nisto:



Começo a ter a sensação que o racismo está tanto na falta de educação como no próprio processo de educação social no qual nos vemos envolvidos ao longo das nossas vidas. Há um regime social que impregna todos os dias o nosso subconsciente com indicações sobre o que é a norma. A regra e a norma conformam aquilo que vamos assimilando como sendo a normalidade e essa linha não define um círculo englobante de todos nós mas surge como uma divisão que acaba por nos distinguir uns dos outros (uns mais e outros menos). Estamos num mundo viciado e o maior problema é quando nos cansamos de interpretar os sinais negativos e por serem tantos e tão difíceis de enfrentar acabamos por os negar. Há sempre uma esperança que a negação da negatividade produza alguma positividade. Mas não é assim tão fácil. Com o mundo global muitas barreiras vão cair por terra e à medida que nos aproximamos aquilo que nos distingue começa a estar na base de sentimentos de desconfiança. A segregação daquilo que é diferente faz parte de um instinto primitivo (deseducado) e se não estivermos preparados para aceitar as várias realidades culturais, aquela que é a dominante irá afirmar-se perante as outras criando um estigma social gravíssimo com consequências complexas para quem não está naturalmente protegido pela norma e que acabará por sentir sempre uma resistência para a sua necessidade de integração e afirmação.
O ano passado uma jovem negra, ainda no liceu, realizou um documentário com meios muito limitados e no entanto as conclusões do seu esforço tiveram repercussões muito importantes. Ao longo de uma série de entrevistas com crianças negras com idades compreendidas entre os 4 e os 7 anos e dando-lhes a escolher entre uma boneca preta e uma branca, a larga maioria escolheu a branca e na lista de motivos estavam associações perturbadoras entre a cor da boneca e o carácter. A boneca branca era geralmente considerada a "boa" e a boneca negra era a "má". Mesmo assim quando a pergunta era qual boneca mais parecida com elas a resposta indicava que se reviam mais na boneca negra apesar da preferência pela branca.

Penso que talvez a maior dificuldade quando se fala na questão do racismo é o facto de as pessoas insistirem em enfrentar o problema procurando as manifestações mais conscientes, quando no fundo o racismo é sobretudo um problema psicológico que só pode ser entendido se se tornar claro que é antes de mais uma virtualidade subconsciente que nos afecta muito antes de podermos reconhecer em nós qualquer tipo de atitude de discriminação. Somos racionais depois de sermos animais e o nosso esforço deve ser exactamente o de contrariarmos esses estímulos primitivos desadequados ao meio civilizado em que nos inserimos.

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