sábado, agosto 25, 2007

Esta noite como outra qualquer

Não sei porque razão não me vendi
o preço da imperial ali era de 5 euros (incrível hã)
um copo sem garantias, mas um passo ainda assim
para longe. E qualquer coisa que prometesse
outra coisa - ali - seria bem vinda.
Infelizmente o dinheiro que temos
nos bolsos muitas vezes não chega
para experiências tão simples e gratuitas
como esses rituais de sono e enterro.

A meio de uma conversa casual
alguém me confessou a morte do seu pai
- detesto que me digam isso assim
do nada, sinto que devia correr
abraçar o meu antes que ele se esqueça
de ter uma última conversa comigo...

Às vezes parece-me que muita gente
só quer ver se somos capazes de chorar,
o álcool, graças a Deus, ajuda
e assim fujo com o olhar para um lugar vazio
onde pode ser que a esta hora durma o meu pai,
no fundo estou só a tentar ser um pouco humano.

Por qualquer razão está convencionado
que ser humano é isto, ter muita pena e não fazer nada,
dizer coisas tão estúpidas como é a vida!
e ao mesmo tempo chorá-la
como se no fim dos nossos dias
estivéssemos apenas a regar uma planta exótica
que deixa que flores negras desabrochem
enquanto se abrem as campas
onde quem nos alimentou se deita
e se enrola na pútrida terra. Tudo é finito.
Fica o chão de onde não nasce mais nada, resta-nos
a semente de um corpo que não dá vida
só tristeza, dá-nos a vontade de esquecer
esses dias em que andámos enganados
com um sorriso nos lábios,
passageiros sem nome num comboio
com destino ao inferno.

1 comentário:

. disse...

e é tão verdade isto