terça-feira, agosto 14, 2007

Entardecer no sul

enormes ponteiros
pisam-lhes o tempo nas costas
que doem ao entardecer

nesta altura do ano
passam por ali alguns turistas,
chegam ao café e torcem o nariz
quando vêm o refugo da pastelaria

antes de irem disparam
as máquinas modernas
contra aquela imobilidade antiga
e levam no cartão de memória
uma imagem digital do café dos velhos
perdida entre imagens
de monumentos e paisagens

agora há pouco um dos velhos
deitou fora uma carta, tirou outra
e deixou uma pergunta na mesa
será que estamos aqui parados
para tornar aquelas fotografias
mais
...(?)
em vez da palavra soltou um suspiro
(é difícil acabar uma frase destas)

entretanto um turista
perguntou se tinham horas
sem lhe olharem na cara indiferente
procuraram à volta
e um adiantou-se: se temos horas?
o que nós temos são anos
meses e semanas
talvez dias, mas horas...
fez-se um silêncio que o turista não entendeu
e depois outro deu-lhe a resposta que ele queria
faltam três minutos para as sete
e o turista desapareceu

o velho tapou o relógio
com a manga da camisa desbotada
e fizeram todos por esquecê-lo.

Nestas salas de espera
ninguém tem muita pressa
o tempo é sempre um estranho
e vai passando por ali sem dizer nada
até haver outro lugar vazio
à volta da mesa.

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