sexta-feira, agosto 17, 2007

Dentes podres em Lisboa

O poeta medíocre
encheu os pulmões
de ar maligno
e disse para as paredes
que como sempre
o cercavam:
«chega de poemas de amor».

Não demorou a perceber,
o poeta medíocre,
que sem poemas de amor
ele não existia sequer
- ou era ainda,
na melhor das hipóteses,
mais medíocre
do que se acustomara a ser.

As palavras afluíram-lhe então
como um vómito frio e cansado,
dentes podres de uma musa
«que já foi com todos»
e com ele também.

- Manuel de Freitas

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