segunda-feira, agosto 27, 2007

Contador

Não precisas de acreditar em mim, mesmo que eu admita que não sei aquilo que vou dizer-te ainda assim vais tomá-lo como certo. E mesmo tu, em princípio, não podes saber disto, mas não vais desconfiar ao ler estas linhas porque a tua mente não tem como desmenti-lo: Hoje alguém acordou e entre os primeiros pensamentos estremunhados e as futilidades que a luz do dia apura em nós, não teve tempo de imaginar que hoje seria o último dia da sua vida. Tomou o pequeno-almoço como noutro dia qualquer, tomou banho e vestiu-se como se habituou a fazer e ao olhar-se ao espelho não reparou em nada estranho, nada no seu olhar faria prever que era a última vez que se olhava ao espelho. Morreu pouco depois da hora do almoço e amanhã a sua morte não será confirmada por nenhum jornal e ninguém escreverá artigos elogiosos levantando memórias. A sua família vai trocar a notícia com tristeza e os poucos amigos que manteve vão-se lembrar de coisas que não tiveram oportunidade de lhe dizer. O mundo continuará a deitar-se e a levantar-se e nem eu nem tu vamos sentir a sua falta e no entanto este é um facto que estamos sempre muito a tempo de confirmar.

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