quinta-feira, junho 21, 2007

Six Feet Under

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Neste momento estou a ver os últimos episódios da série Six Feet Under (Sete Palmos de Terra) e à medida que a 5ª série começa a fechar aquele que é para mim o melhor momento televisivo de sempre, sinto-me compelido a escrever algumas palavras de modo a partilhar e recomendar esta poderosa experiência.

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Primeiro quero dizer que já estou a perder alguma da furiosa obsessão que mantive nos últimos anos em que assisti às principais séries americanas e das quais fui retirando cada vez menos proveito. Talvez porque demasiadas pessoas aderiram ao fenómeno e entretanto, parece-me, os produtores terão começado a dirigir os novos produtos para uma universalidade de gostos, o que gerou séries que na actualidade têm imenso sucesso e que quanto a mim têm pouco valor educativo. Estou a falar, por exemplo, de séries como Lost, CSI, Las Vegas, Prison Break, Heroes, e o epítome destas séries plásticas, Desperate Housewifes. Depois há também séries de bom carácter mas que falham pela incapacidade de fazer consistir bons guiões e o aproveitamento de temas realmente interessantes.
Não vale a pena fazer aqui uma apreciação global do conjunto das séries que vi mas gostava de lembrar mais algumas que me agradaram especialmente: Sopranos (claro), My So-Called Life, Once and Again, Seinfeld (óbviamente), Cidade dos Homens (dos produtores do filme Cidade de Deus), Carnivàle, Band of Brothers... são aquelas que me lembra agora.

Para mim que nunca gostei de ter encontro marcado com a televisão para assistir a um episódio de uma série, a relação com estas novelas não resulta de uma noção própria do entretenimento televisivo. Vi sempre as séries em DVD. Por isso, em certa medida, algumas destas séries que vi foram como longos filmes com pausas e intervalos, e, o que mais apreciei nalgumas delas foi o aproveitamento da história e o seu desenvolvimento ao longo de períodos que apesar de se realizarem de forma mais ou menos autónoma a cada hora (episódio) surgiam sempre ligados estendendo de um jeito muito compreensivo a sua realidade ficcional.
É evidente que a série permite explorar de uma forma mais completa e profunda as ideias do autor e depois a própria dimensão das personagens inseridas na história... Mas não vale a pena dizer muito mais sobre aquilo que em termos gerais permite fazer a apologia das séries em concorrência com o formato da obra cinematográfico, são de facto mundos distantes que caminham paralelamente e que eu acho que já todas as pessoas diferenciam.
O que quero assegurar-vos é que vi muitas muitas séries e se tiver que recomendar alguma a alguém que me pareça interessado não tanto em matar tempo mas em viver qualquer coisa que toque a sua sensibilidade e inteligência, vou recomendar sempre a Six Feet Under.

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Já li críticas de algumas pessoas que não se sentiram particularmente afectadas pela série e a minha reacção foi sempre de espanto... Chego ao ponto de não conseguir compreender como é que alguém perante uma amostra consistente daquilo que representa esta ficção sensível se mantém de alguma forma indiferente, quando eu, por outro lado, a absorvo em sentidos que tantas vezes me ultrapassam e reconheço-lhe uma dimensão profunda que desafia tudo o que emocionalmente me estimula nas várias apreciações intelectuais sobre a vida que conheço.

Esta é por excelência a série da vida e da morte. Todo o universo Six Feet Under é um esforço desconcertante, aberto e descomplexado para nos levar numa viagem em que não há muitas respostas mas surgem imensas questões que nos aproximam e nos permitem interessarmo-nos à medida que vamos avaliando as várias possibilidades e perspectivas que a vida e a morte merecem de nós.

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A palavra que me ocorre sempre que tento definir a série é profundidade. Não consigo ser mais claro que isto, esta é uma série profunda. Vai levar-vos numa viagem de dentro para fora e de volta para dentro com uma confiança reforçada na nossa capacidade de sentir as experiências que nos concertam para a vida e que nos assustam perante o precípicio da morte. Há uma certa sensação de apaziguamento em nós à medida que tudo o que se observa tem espaço e oportunidade para nos envolver enquanto nos relacionamos com cada personagem em níveis de afinidade diversos que nos ajudam a relativizar as questões ou situações abordadas. É uma série que parece sempre completa, consegue cobrir tantas camadas de análise psicológica e social que nos sentimos sempre inspirados e também muito divertidos.

Sou muito contundente em relação à Six Feet Under e gosto de afirmar que foi o mais influente veículo artístico do qual apanhei boleia na minha vida. Não há um livro, um filme ou outra coisa qualquer que me tenha marcado como esta série e acredito que dificilmente encontrarei alguma obra que me impressione mais.
Recomendo-a a todas as pessoas que estão à procura do próximo nível.

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