sexta-feira, junho 15, 2007

O poeta vaiado


Gravação de Al Berto, (via frenesi)

Al Berto, um poeta português (mas poeta a sério, não um desses que são verseleiros à força das horas desempregadas) vê-se, nesta situação, lixado com os estudantes de Coimbra que não estão dispostos a perder tempo com coisas sérias.

Na gravação ouve-se o que aconteceu na noite de 17 de Janeiro de 1992 nas instalações do bar da associação de estudantes, e o que aconteceu é o que é provável que aconteça em experiências de laboratório como esta, com ratos destes, e com um poeta que tem poesia para oferecer... O que é que esperavam? É claro, dêem-lhes o álcool até que lhes queime o pensamento mas por favor não os chamem de estúpidos. O melhor é um pouco de música estúpida que assim eles disfarçam, mas com poesia... não.

Acho que o problema não é dos estudantes, é evidente que os estudantes universitários destes últimos tempos são em conjunto uma gente vaca que prefere música idiota para acompanhar com a bebida que ajuda a empurrar as cabeças para a libertação mais triste, a total desinibição, o abandono da individualidade e da capacidade de avaliar os excessos, unindo adultos nos jogos sociais mais imbecis... Mas não me parece que isto seja só razão de ser agora. A diferença que se sente naturalmente nos dias de hoje resulta de enquanto há bom tempo atrás serem as elites quem tinham na universidade o seu lugar, hoje foram afogadas pelo maralhal de gente que faz o curso pelo curso e não por si mesmas.
Agora ir para a universidade é entrar em mais um esquema da absorção sistemática - passar por um curso é seguir numa longa fila, esperar uns anos e voilá... canudo na mão!
É natural que ao tentarem dar poesia a estes 'mineiros' eles sintam vontade de reclamar afinal não foi para isso que ali foram (se fosse para aquilo não ali estavam!) eles não querem pensar, não querem pensar porque pensar a eles dói-lhes e havia de lhes lembrar a tortura que são as suas vidas levadas debaixo do chão a cavar ainda mais, o que eles querem é atirar os miolos contra a parede, agitá-los tanto que por uma noite já não lhes restem pudores.

1 comentário:

José disse...

Está radical. Radical vem de raiz, não tem nada de mal. Mas mesmo assim não esqueças que estás agora a ver o filme debaixo de um apertão psicológico, que é o teu apertão, de que não podes perder.

Temos de integrar as perdas como alívio de peso, leveza do ser. Agora isto sou eu a falar porque com perdas amorosas também eu bato no chão.