Aqui me sento num 2º andar
curvado neste pijama
amarelo
ainda a fingir que sou
um escritor.
com uma neura do caraças,
aos 71,
as células do meu cérebro
comidas pela
vida.
carradas de livros
atrás de mim,
eu coço o meu cabelo
fino
à procura da
palavra.
há décadas que eu
enfureço as
senhoras,
os críticos,
os lambe-botas
das universidades.
todos eles irão em breve
ter o seu tempo
para celebrar.
“completamente sobrevalorizado…”
“nojento…”
“uma aberração…”
as minhas mãos afundam-se no
teclado
do meu
Macintosh,
é o mesmo velho
truque
que me tirou das ruas e
dos bancos de jardim,
a mesma escrita
simples
que eu aprendi nesses
quartos baratos,
que não consigo
abandonar,
aqui sentado
num 2º andar
curvado neste pijama
amarelo
ainda a fingir que sou
um escritor.
e os deuses sorriem,
e os deuses sorriem,
e os deuses sorriem.
- Charles Bukowski
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