O último dia que passei pelo lado doce da vida
colhi uma laranja que esperava uma festa
do vento para se vir deitar no chão
descasquei a laranja e comi-a, mas antes
estive muito tempo com ela entre as mãos
e procurei a lógica na sua beleza:
A laranja é cor de laranja
tem um sabor tão intenso
inexplicável, sabe a laranja
e a casca é tão macia e fresca
como a pele de uma mulher
que antes de descascada
já me invade pelos olhos
e me deixa adocicado
ao ponto de chorar a doçura
do seu sumo natural...
O sumo que ela tanto gostava
e que eu lhe deixei na última manhã
em que acordou do meu lado...
Enquanto ela bebia eu
agarrava-me à beleza nua
daquele corpo mordido
pelos desejos
que tantas noites
me alimentou...
Sempre gostei das laranjas
mas esta, cujo sabor doce
ainda me aflige a garganta,
esta, além de tudo, tinha
por dentro e por fora
uma memória
que me torna impossível
a sua digestão.
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