segunda-feira, junho 25, 2007

Elogio da sombra

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Na sombra não cabem vaidades
cada sombra é a franja de um segredo
onde cada um se encontra consigo mesmo
sem dor sem orgulho e sem desvelo

o coração entende-se com a sombra
nela experimenta suas chaves de silêncio
os olhos são brasas na penumbra
e ás escuras é melhor o beijo

a sombra não é a mesma em cada ocaso
no inverno faz seu ninho cinzento
mas nem nos confins do verão
é refúgio de anjos ou espectros

a sombra não atraiçoa / é sempre única /
quase não estremece com o vento
e quando o sol a vence impiedoso
a luz reconhece-nos como orfãos

- Mario Benedetti

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