quarta-feira, março 21, 2007

Falar sobre nada

Em prosa. Vamos falar sobre nada mas para falar de nada deixa-me pegar numa coisa insignificante, um quase nada. Um grão de areia por exemplo... É insignificante é um bom exemplo daquilo que é quase nada. Se te levarem até a um quarto onde as paredes o tecto e o chão são brancos de cima a baixo e em que lá dentro existe apenas um pequeníssimo grão de areia, nesta situação caso uma voz te perguntasse o que vês naquele quarto provavelmente a resposta seria "nada". Pronto, um grão de areia. Agora vamos imaginar que temos apenas um grão de areia. O que acontece se o largarmos sobre nada? Talvez uma criança imaginando o grão de areia desamparado o veja a cair mas em princípio não aconteceria nada, o grão de areia ficaria estático no lugar onde fosse largado. Um grão de areia como um ponto num espaço vazio. Agora se largarmos outro grão de areia no mesmo espaço o que será que acontece? Pensem um bocado e depois vão chegar à conclusão que os dois grãos de areia se iriam gradualmente aproximar um do outro. A dificuldade é saber a que velocidade. No meio do nada não acontece nada mesmo que exista lá alguma coisa (como um grão de areia) mas se houverem duas coisas provavelmente haverá uma acção que é efeito da relação entre essas coisas (os dois grãos de areia). Talvez Brecht tenha pensado nisto quando afirmou que a "unidade humana mínima não é uma pessoa, são duas".
O nada é a falta de acção e toda a acção é, por sua vez, uma força entre dois ou mais pontos em relação.
O que é que isto interessa?
Quase nada... É o meu grão de areia à espera do teu.

1 comentário:

Anónimo disse...

...por entre analogias, grãos de areia que se intitulam de tudo e de nada, que se vestem de unidade, que saem do egoísmo da própria individualidade...

...parabéns! Ao ler o post, consegui pensar/sentir como grão de areia! Logo, a importância de reconhecer o valor das palavras...

(locus)