sexta-feira, outubro 20, 2006

Mar adentro


Mar adentro, mar adentro.
E sem a gravidade no fundo
Onde se cumprem os sonhos
Juntam-se duas vontades
Para cumprir um desejo.

Um beijo acende a vida
Com um relâmpago e um trovão
E numa metamorfose
O meu corpo não é mais o meu corpo,
É como se penetrasse o centro do universo.

O abraço mais pueril
E o mais puro dos beijos
Até sermos reduzidos
A um único desejo.

O teu olhar e o meu olhar
Como um eco repetindo, sem palavras
'Mais adentro', 'mais adentro'
Até o mais para além do todo
Do sangue e dos ossos.

Mas eu desperto sempre
E sempre quero estar morto,
Para continuar com a boca
Enredada nos teus cabelos.

- Ramon Sampedro

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