Li o seguinte post num blog que é muito do meu gosto - o Caga Sentenças.
Ora antes de mais quero dizer que sou sincero quando digo que gosto deste blog, até gosto muito mas foi lá que eu fui encontrar um perfeito exemplo daquilo que eu vejo como uma análise idiota das coisas e ao mesmo tempo considero que embora seja uma análise precipitada acaba por realmente expressar um ponto de vista que é muito popular e consubstancia uma série de conclusões parvas de imeeeensa gente...
Ora leiam então a opinião do Papa Ratzi:
Progresso? Evolução? Deixem-me rir
Li há pouco tempo uma entrevista, na Visão, a um economista que a dada altura dizia que as pessoas deviam ter a coragem de aceitar perder direitos. Para mim, isto é um indício de um retrocesso na nossa civilização uma vez que o progresso foi sempre acompanhado por um aumento de direitos em detrimento dos privilégios.
Ultimamente tem existido a tendência de nos quererem fazer crer que temos direitos a mais, principalmente ao nível da economia e trabalho. Como se o facto de termos uns quantos direitos, pelos quais até houve gente que deu a vida para que as gerações futuras pudessem usufruir deles, fossem não uns direitos mas sim uns privilégios. Culpam-se muitas vezes esses direitos da falta de competividade e produtividade dos trabalhadores portugueses. No entanto nós, enquanto país, não eramos mais ricos durante o Estado Novo, periodo durante o qual os direitos das pessoas eram menores que hoje em dia.
Para uns quantos verdadeiros priviligiados, donos da grande indústria por exemplo, é um favor que nos fazem ao dar-nos emprego. No entanto a nossa lei máxima, a Constituição de 1976, consagra, entre outros direitos, o do trabalho. Para eles essa mesma constituição foi um retrocesso apesar de ter consagrado uma série de direitos cívicos, os quais por exemplo, permitem-me estar agora a dirigir-me aqui a todos aqueles que quizerem ler este texto sem que eu tenha o risco de ir passar uma temporada à prisão.
Pois é, é uma chatice para os poderosos que a carneirada possa ter o direito de bater o pé. Mas infelizmente, a pretexto da sacro-santa economia, os direitos da população em geral ao nível do trabalho têm sido vandalizados e sou pessimista o suficiente para vos dizer que acredito que isto é apenas o início.
Quando vejo que colegas meus de trabalho aceitam, como se fosse algo de natural, serem trabalhadores temporários indefinidamente só posso concluir que algo vai mal e não irá melhorar. Até pode ser verdade que o facto de se ser temporário seja bom para a produtividade, uma vez que eles e elas estão numa posição que não lhes deixa margem de manobra para reivindicações e para manterem o seu lugar na empresa têm de se comportar submissamente. Mas será isto um indício de progresso? Maior produtividade, a qualquer preço, implica realmente evolução? Pessoalmente não me parece. Até pode ser que menos direitos levem a uma maior riqueza mas não levarão certamente a um maior progresso como sociedade.
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Eu prefiro não seguir agora para uma sub-análise dos aspectos que este texto refere mas deixem-me só indicar umas poucas ideias que mais ou menos expliquem o que me faz objectar e repudiar esta linha de pensamento:
1. Ele não tem consideração pelas flutuações do progresso - acha que progredir significa sempre melhorar e cai na tentação de acreditar que a sociedade evolui sempre dando passos em frente mas esquece que o sacrifício é um derradeiro passo na evolução e é um passo que muitas vezes é exigido às pessoas e é claro que elas podem reclamar e obstar a esse sacrifício involuntário mas o tempo que se perde até se conseguir o sacríficio é apenas tempo que vai acrescer uma maior dimensão ao sacríficio.
2. Parece ser ingénuo ao ponto de não perceber como a economia enfrenta graves desequílibrios com a súbita aparição de mercados concorrentes que elevaram muito a fasquia e agora pedem um esforço de revolução aos países desenvolvidos de forma a poderem acompanhar este processo de revitalização e redimensiolização dos parâmetros que definem as novas regras do mundo que se abriu e se tornou mais díficil e mais exigente para os mercados de produção.
3. Esquece que Portugal se integra num regime global onde aqueles que não oferecem mais ou melhor são "comidos" pelos que o conseguem fazer.
4. Esqueceu-se também que Portugal enfrenta hoje uma crise "nova" que reflecte a falta de medidas políticas que venham amparar o país no momento que se previa (este) de estagnação económica... Parece que não percebeu que o poder de compra aumenta quando a economia se desenvolve e cai quando a economia estagna ou sofre... Os portugueses aprenderam a gastar e esqueceram-se do que significa poupar... Mas olha meu amigo está na altura de recuperar esse hábitos porque são eles que nos vão salvar.
5. Esqueceu-se ainda que os direitos podem chamar-se direitos mas não são garantias da condição de existência humana... Muita gente lutou e sacrificou-se para entitular-nos de uma série de direitos mas essa luta foi o que possibilitou todos estes títulos e o que as pessoas convenientemente parecem esquecer é que coisas como os direitos precisam de manutenção e não basta a arrogância para os manter é preciso um sacríficio contínuo... Ora o português não é amigo do sacríficio mas adoro os seus direitos - bem vai ter que ceder um dos lados porque isto continuando a esticar vai rasgar este belo vestido de direitos...
6. Depois o Papa Ratzi ainda fala de situações a que ele assiste e diz não compreender mas devia... Ter um emprego, ter a possibilidade de trabalhar e ganhar dinheiro/sustento pelo fruto do nosso trabalho foi sempre considerado um privilégio e podem vir mil constituições dizer mil coisas muito bonitas e isso nunca vai mudar... As condições mudam e as pessoas têm que ser seres virados para a adaptação - os portugueses gostam de ficar sentados no sofá e nunca foram muito virados para a adaptação e por isso tudo neste país se transforma de forma drástica e todos nós já começámos a sentir que isto está para mudar e vai mudar de repente, de forma drástica... Os iludidos vão sentir mais ainda essa chapada porque a verdade é esta, meus amigos, este país não tem condição para proporcionar aos portugueses as regalias às quais eles se habituaram e o endividamento tem uma margem de tolerância que estica mas acaba por explodir e quando assim for isto vai cair e muita gente vai ficar sem perceber como passou de rei a miserável do dia para a noite...
Alguns factos:
Facto - O Estado português deve muito à banca e as dívidas estão a vencer.
Facto - Em média os portugueses devem 120% dos seus rendimentos à banca - isto pode parecer impossível mas quer apenas dizer que devem o total do rendimento actual mais 20% do que ainda está para vir.
Facto - Cerca de 80% dos automóveis possuidos por portugueses ainda não foram pagos na sua totalidade e são pagos em prestações... O automóvel é considerado o mais dispendioso dos passivos comuns.
Facto - As estatísticas comprovam que dentro de 15 anos o Estado português não vai poder pagar pensões de reforma e os subsídios de desemprego bem como uma série de outras despesas sociais do Estado vão acabar.
Facto - Mais de 80% das despesas do Estado são gastas para cobrir as medidas de arranjo social.
Facto - As formas de contribuição (impostos, taxas, outras contribuições) vão aumentar obrigatoria e substancialmente até 2012 para prevenir o Estado de abrir falência e deixar de cumprir os seus vários compromissos sociais.
Facto - Todos os economistas portugueses (apesar das diferentes soluções que propõem) concordam que a solução passa por uma Reforma da Administração Pública que irá diminuir em muito o número de funcionários públicos.
Facto - Os funcionários públicos representam quase 40% da fatia das receitas que o Estado consegue através de impostos.
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