terça-feira, agosto 29, 2006

Dieta de morangos com açúcar

Todos diferentes... Cada vez mais... Iguais.

Não esquecendo a Floribela e ensacando-a aqui também, parece que esta dieta mental já venceu a censura que lhe vinha de serem frutos foleiros, a praga já se espalhou e o contágio já não está na margem da possibilidade eminente mas é a realidade com que vamos ter que lidar, podemos estar agora no pico, no clímax, no apogeu antes de começar a queda mas isso (apesar de serem boas notícias se se vierem a confirmar) já não nos safa dos danos que este domínio das produções rafeiras - a todos os níveis sem qualidade - mas poderosas assumiram e já não é uma sensação, é observável a onda que percorre o país e não são só os mais novos os que aderiram a esta vaga...
Quanto a mim há uma série de pontos preocupantes nisto, deixo aqui os de que me lembrei agora...

+ Uma cambada de jovens envolvidos nestas produções que depois de serem aproveitados tentam agarrar-se há ideia de que podem continuar no "mundo das artes" e fazer disso um modo de vida. Claramente muitos vão acabar decepcionados quando perceberem que afinal foi só uma experiência tão passageira como a experiência de um campo de férias.

+Uma série de crianças que ao verem gente sem qualquer preparação e capacidade a desempenharem um trabalho próprio de actores e músicos acreditam poder suceder-lhes e ocupar um lugar nesta constelação de estrelas decadentes.

+Uma fasquia colocada muito baixa para as produções nacionais que já não precisam de apostar nos valores da qualidade e excelência mas apenas em truques comerciais que garantam o sucesso junto de um público deseducado.

+Um embrutecimento das noções dos jovens que crescem no seio de uma realidade que explode à volta de uma tremenda frivolidade e banalidade dos assuntos e temas que se discutem e sobre os quais se desenvolvem as matérias de interesse pessoais e sociais - uma cultura que asfixia as mentes porque é pobre e repetitiva na medida em que abusa de fórmulas que garantem um sucesso imediato e que não dão em troca nenhum tipo de provocações intelectuais que desafiem e instiguem os jovens a desenvolver-se, crescerem e serem melhores.

+Uma tipicidade dos comportamentos e uma aproximação das escolhas que passam a ser dominadas por uma moda que não vagarosamente se assume e depois passa a ditar regras que são acolhidas num plano muito alargado.

+Um conjunto de exemplos que são servidos aos jovens e que são muito questionáveis, não só falando das personagens da ficção como depois dos pseudo-actores que não são pessoas com nenhum tipo de formação especial e que podem assumir-se como uma elite que não passa propriamente um modelo de exemplo a seguir...

Acho que o esforço de censura deveria manter-se e preocupar-se realmente com esta dieta em vez de fazer o que é mais natural que é desprezar a situação... Além de não vermos as séries televisivas de fraca qualidade devemos incitar os outros a procurarem outras séries de teor mais interessante e que cumpra o papel de entreter ao mesmo tempo que informa e educa.

4 comentários:

Arrebenta disse...

21 Anos

Dedicado ao Diogo Vaz Pinto

Quando o Diogo nasceu, Portugal tinha acabado de, periclitantemente, ter reequilibrado as suas Finanças -- honra feita a Ernâni Lopes e ao último governo em que o grande trafulha, Mário Soares, foi Primeiro-Ministro. Esse governo era suportado, no Parlamento, por uma das maiores aberrações parlamentares de que houve memória, uma coligação explícita do Bloco Central.

Nesse ano, uma figura obscura, chamada Cavaco Silva, sabendo que Portugal ia receber uma batelada de dinheiros da então C.E.E., dá três vezes o golpe do bandido: apresenta-se na Figueira da Foz, a pretexto de ir rodar uma sucata qualquer, da Citröen, atraiçoa os seus rivais de partido e, em seguida, atraiçoa o P.S., seu aliado governamental, através de uma jiga-joga da qual já não me lembro, mas com o medíocre Eanes pelo meio, que levou a que, de repente, de traição em traição, ele, Cavaco, tivesse Maioria Absoluta na Assembleia.

Os dez anos que se seguiram ficaram, para sempre, na História Nefasta de Portugal: pressupunha, o espírito dos próprios Fundos Estruturais, que a sua entrega fosse feita a estados membros com culturas civilizacionais ligeiramente superiores à atmosfera da Chicago dos Anos 20. Enganaram-se, os pares europeus: a tradição chupista portuguesa, que durante séculos conseguiu ter nas mãos os melhores recursos do Mundo, e nunca ter saído da cepa torta, a não ser no ridículo das anedotas espalhadas pelos povos vizinhos, ia, mais uma vez ensaiar a receita.

Entrámos para a C.E.E. como país da Cauda da Europa, e de lá saímos, 10 anos depois, exactamente na mesmíssima posição. Vinte anos depois, ainda estamos pior: somos a Cauda, não de 12, mas de 25. Pelo meio, fizémos desaparecer biliões; destruímos, com o betão e ódio típico pelo vegetal, todo o equilíbrio paisagístico; fizémos estradas assassinas, com revestimento a durar meia dúzia de meses; enterrámos a frota de pesca; transformámos a Agricultura numa paródia de importações de frutas e legumes verdes... dos outros, e mais caros; escaqueirámos as indústrias tradicionais; regredimos a níveis culturais típicos do primeiro Salazarismo, mas todos muito cheios de diplomas; multiplicámos universidades privadas, para dar guarida aos maus e menos maus que faziam sombra aos péssimos já instalados; assistimos ao emergir de piolhos políticos, Isaltinos, Fernandos Gomes, Valentins Loureiros, Fátimas Felgueiras, Marques Mendes, Durões Barrosos, Paulos Pedrosos, Morais Sarmentos, Nobres Guedes, Miguéis Portas, Dias Loureiros, entre outros; perdemos a humildade e ganhámos a ganância dos novos-ricos; não produzimos um único grande escritor, um grande músico, um grande pintor, um grande cineasta que fosse: em contrapartida, arranjámos um Clube da Mediania, que, desde então, fez fretes ao Sistema, para fingir que estávamos iguais a... "lá fora".
Subvertemos o tecido social de alto a baixo, convertendo, sem transição, rurais em drogados suburbanos do litoral; inventámos Bancos para lavar capitais; deixámos crescer monstros que impediam qualquer nível de liberdade do cidadão; multiplicámos cartéis, monopólios, oligopólios e outras formas de chulice, e chamámos-lhes, pomposamente "Livre Mercado"; ensinámos a medir o vizinho do lado pelo pouco que tinha a mais, ou a menos, do que nós; cultivámos o desprezo, a impiedade e a arrogância; bloqueámos o acesso à Realidade, através de "lobbies" de comunicação, que, diariamente, asseguram aquela ficção que, por sua vez, garante a manutenção do xadrez do "Sistema" e das suas reles peças; transformámos a "velha cunha", artesanal, na "nova cunha", industrial e impiedosa; adubámos os rostos da nossa miséria mental, Fátima, Futebol e o Fado, a níveis a que nem Salazar se atreveria; habituámo-nos a circular em carros, de luxo, em lamentáveis estradas de... lixo; tornámos o metro quadrado habitacional num dos mais caros da Europa, para podermos lavar, num só acto de compra de barraca, o máximo de capital; transformámo-nos num dos países do tráfico sujo de armas; somos a auto-estrada da Droga; desfizémos o Primado da Independência dos Poderes, que vinha da Revolução Francesa, indexando os tribunais às ordenanças dos políticos, e os políticos aos poderes dos capitais e das confrarias; preferimos ser governados por Sociedades Secretas; transformámos as estruturas do Estado em gigantescas metástases da Maçonaria, da Opus Dei, do "Lobby Gay", dos Construtores Civis, dos Traficantes de Drogas e de Armas; descobrimos que tínhamos políticos tão porcos e cobardes que faziam passar a sua sexualidade pelo abuso de crianças, e logo varremos o assunto todo para debaixo do tapete, como se nunca tivesse acontecido; punimos as vítimas e promovemos os culpados; desenvolvemos polícias e tribunais especializados em encobrir o Crime; criámos uma Máquina Informativa eficaz, que transforma todo o anterior num país de sorrisos; tornámos ministros, e primeiros-ministros, criaturas de perfil mais do que duvidoso, e que, num sistema correcto, teriam cadastro, e não currículo; elegemos, com maiorias absolutas, para autarquias, indivíduos que puramente deviam estar sentados na barra do tribunal; tornámos o Estado num cancro; bajulámos os lucros ilícitos de instituições mafiosas, cujos crescimentos roçam os 30%, à custa do permanente Branqueamento e da escravização financeira do pacato cidadão comum; vivemos numa permanente mentira; passámos do elevado diálogo cultural, entre civilizações, para um estado de guerra permanente, entre tarados fundamentalistas; integrámos o Racismo como uma necessidade quotidiana; transformámos a nossa liberdade individual num pântano de anátemas e de promiscuidades religiosas e morais, destinada a impedir a felicidade de cada um; baixámos o nosso nível, e a consciência de civismo, a um ponto tal que já não percebemos que nos assistia o simples direito de processar o Estado, à saída semanal de cada Conselho de Ministros, por permanente violação dos nossos direitos de cidadania; transformámos cada cidadão no espião do seu vizinho; reduzimos o nosso nível de leitura aos padrões medievais; castrámos a Juventude, através das cenouras dos bens supérfluos, e da criação de uma estrutura de comparações, onde quem não tem é, pura e simplesmente, liquidado; afundámos o sangue jovem nos desastres de mota, nos "racings", nas drogas, no álcool, nos químicos, na "Night" e na Sida.

Isto, assim, por alto, foram 21 anos, desde que o nosso simpático Diogo nasceu.

Algures, numa obra que não posso precisar, Vergílio Ferreira afirma que, se enfiássemos uns óculos cor-de-rosa, em pouco tempo o cor-de-rosa desapareceria, como cor, por tudo ser visto através da cor de rosa deles. Do mesmo modo, para quem tenha nascido e sido criado neste estado de coisas, ele não é um aberrante estado de coisas, mas um mero, e simples, estado... natural. Bastava ter nascido 10 minutos, ou dez segundos, antes, para perceber que isto não era a Realidade, mas uns terríveis óculos cor-de-rosa postos à frente dessa mesma Realidade.

Todavia, nós e o Diogo temos algo em comum: adoraríamos que todos os nossos textos fossem uma maliciosa ficção sobre uma soberba Mundividência.

Como o Diogo, já acreditei nesse mundo de utópica transparência.

E, para terminar, o meu maior desejo é que o cândido ponto de vista dele triunfe, ou seja, que um belo dia ele se converta numa descrição do Real mais adequada do que a minha. Acreditem, seria uma das grandes felicidades da minha vida; a outra, a de que ele, Diogo, nos continue a visitar e a ler, percebendo, como dizia a Yourcenar, que o Tempo é um grande, um enorme, escultor.

Anónimo disse...

ERRATA:
Onde se lê "... tentam agarrar-se há ideia ..." deve ler-se "...tentam agarrar-se à ideia..."

É que tanto raciocínio pseudo-intelectualóide depois esbarrar em ortografias destas, deixa logo tudo à vista...

Diogo Vaz Pinto disse...

lol... raciocínio intelectualóide! és parvo... chama-lhe antes constatação consensual ó necessitado, não fui eu o primeiro a acusar estes problemas. Quanto ao erro de ortografia que detectaste obrigado pelo aviso mas olha fica lá como homenagem a ti e à tua passagem por aqui.

Diogo Vaz Pinto disse...

E já agora ó conde - acredita que não há nada que me dê aqui tesão maior que uma crítica mas as tuas são um bocado ranhosas para não dizer insignificantes... Arranja alguma coisa que dê para eu esforçar os dedos aqui nas teclas é que tu quando apareces bens sempre por mal mas não trazes mal nenhum é umas merdices que lá arranjas para ver se picas mas acho que se calhar tens um problema um grave, o teu ferrão é pequenino e não dá pá borbulha se ver e fazer comichão... Mas anda lá eu acredito que se puxares com força pelas orelhas talvez consigas agitar os neurónios que vagueiam na tua carola e talvez eles consigam gerar uma ou outra coisita de jeito.

Vá porta-te bem chavalo e vai aparecendo. Granda abraço