sábado, agosto 19, 2006

Cálculo do Suicídio


1ªparte

Um espaço vazio num momento... No outro este espaço é encontrado por um rapaz ainda muito jovem, uns 16 anos, senta-se aí mas não preenche o lugar. É uma imagem sombria que treme e nos deixa mais presos aos cinzentos do que às outras cores que podem ser vistas mas parecem não lá estar.
O rapaz tem uma camisola tipo sweatshirt com capuz, o capuz não lhe cobre a cabeça mas encima-lhe os ombros e é o enchimento desta cobertura ao longo do tronco que permite ao rapaz passar por bem constituído.
Ele fica ali uns largos segundos, mexe a sua posição porque não é nenhum destinado e não está à vontade ali como não está em qualquer outro lado... O desconforto não cessa mas ele deixa de tentar sentir-se acomodado na pedra fria e sombria e então vira-se de volta para os seus pensamentos do ultimamente...
Não está inquieto mas tem uma inquietude que o faz puxar qualquer coisa para dar um ânimo “aclichezado” ao momento... Do bolso dos jeans puxa um maço de tabaco novo, por abrir, mas um pouco amarrotado. Tinha-o comprado meia hora antes num quiosque de rua. Sem jeito de fumador desembrulha-o como se fosse um acontecimento a desenvolver-se, um acontecimento que marcava a seriedade das intenções construídas no seu pensamento... A sua vida estava por um fio... A vontade podia vencer sobre o instinto e um cigarro era um sinal.
Tirou um cigarro do meio dos outros, um no meio, puxou do isqueiro que comprara juntamente com o maço e com o polegar puxou o gatilho... Não fez fogo nem à primeira, nem à segunda e nem à terceira, foi pela quarta ou quinta. Lá arranjou como acender o cigarro preso entre os lábios finos e pálidos demasiadamente nervosos e comprimidos para algo tão simples... Puxou o fumo para dentro. Fê-lo como lhe parecia que as pessoas faziam ao fumar mas não percebeu logo a ideia completa... Sentio que aquilo não estava a dar muito e esforçou-se demais, lá travou o fumo nos pulmões e lá sentiu a tal coisa estranha que podia ter estado à espera de sentir.
Fumou, deu umas passas valentes, ficou zonzo e contente consigo mesmo... Depois voltou a mergulhar na sensação que procurava mas não sem antes ter sentido aquele grosso sentimento de escárnio que uma parte de si lhe deixou àquela figura, mas a estiga não durou e conseguiu regressar ao sentimento de auto-comiseração que o acompanhava nos tempos cada vez mais vagos dos últimos dias...
Ainda não estava decidido.

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