sábado, julho 01, 2006

Especial atenção por favor... Este homem merece



Esta foi a resposta de Adolfo Luxúria Canibal (vocalista do grupo Mão Morta) à questão levantada sobre os preços serem mais caros em Portugal que no resto da Europa.

"Mas a culpa é só nossa, dos portugueses!
Nós é que temos o culto do caro, resquício de um velho complexo de inferioridade e sintoma de povo novo-rico (sim, apesar de tudo, apesar de sermos os mais pobres da UE, (pelo menos antes do último alargamento), o que é certo é que grande parte - a maioria? -da nossa classe média tem descendência campesina e há quarenta anos andava de pé descalço).
Nós é que achamos que se não for caro não tem qualidade, envergonhamo-nos de achar caro ou de pedir mais barato, que nos tomem por pelintras...
Nós é que temos o culto das marcas, tanto melhor quanto mais caras surjam no mercado, culto esse que no estrangeiro está circunscrito aos suburbanos e aos grupos étnicos deixados á margem, como forma de afirmação social.
Nós é que criámos a aura dos produtos caros como sinónimo de alto standing, como sinal de pertença a uma elite, como prestigio. E qualquer aprendiz de marketing percebe imediatamente isso, percebe que no mercado português uma marca ou um produto impõe-se pelo preço excessivo, ganha renome não pela qualidade mas pelo preço, com a vantagem dessa estratégia ainda aumentar a margem de mais-valia para o fabricante ou vendedor.

A FNAC é um exemplo, com os discos à venda em Portugal bem mais caros que os mesmos discos à venda em França, na mesma FNAC (e o mesmo IVA!).

Mas o exemplo mais chocante é o da IKEA: para se implantar em Portugal aumentou os preços em relação aos praticados noutros paÍses onde a sua estratégia de implantação é exactamente a de preços muito baratos para um design moderno) e, ainda tendo a concorrência da Habitat (que em Portugal já praticava preços mais altos do que em França, p.ex.).

Mas já a Zara não teve que aumentar os preços, pouco depois de abrir as primeiras lojas em Portugal, para se manter concorrencial e apetecível ao público?

As máquinas fotográficas não são bem mais baratas nos Office Centers do que nas FNACs e as pessoas não preferem comprar na FNAC, que são mais prestigiantes?

Em tempos, na Antena 3, contou-se a história da turista portuguesa que entrou numa loja parisiense a perguntar o preço de uma camisola que estava na montra. A empregada disse-lhe o preço e acrescentou, numa honestidade a que não estamos habituados, que tinha mais barato (pressupondo-se que para a mesma qualidade ou superior); não é que a portuguesa levou aquilo como um insulto pessoal, como uma insinuação de que não teria posses para comprar a camisola, e desatou aos berros, dizendo que tinha dinheiro para comprar a camisola, as camisolas todas da loja, a própria loja!...

É esta a nossa mentalidade, e enquanto continuar a ser continuaremos a levar com os preços mais caros da Europa (para salários três e quatro vezes mais baixos)!"

Comentário: de referir que esta apetência do português para ser imbecil remonta aos Descobrimentos. Pegue-se nos cronistas quinhentistas e facilmente se verifica a importância dada à apresentação pública de um cavalo bem arreado, (o Porsche de então), em detrimento do acesso regular a bens alimentares! Exactamente: Fome em troca de um cavalo bem aparelhado na via pública!!!!

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